
fina ou roupa simples, andar de carro ou de ônibus, morar em casa grande ou pequena, ter renda alta ou baixa, ser um rico proprietário ou pequeno proprietário. Mas não pode existir “saúde de rico” e “saúde de pobre”, nem “escola de rico” e “escola de pobre”. Se a escola for igual, o atendimento médico tende a se igualar entre as pessoas de classes sociais diferentes. Por isso, o centro da transformação do Brasil em uma república decente está na escola igual para todos. Essa deve ser a meta daqueles que, ao longo de anos, lutam como militantes de esquerda por um Brasil livre, justo, eficiente. Antes, lutavam pela estatização do capital, a desapropriação de propriedade, a igualdade de renda. Isso não é possível hoje, nem é eticamente necessário. A utopia da esquerda, socialista ou não, é uma escola igual para todos. O que faz uma sociedade ética é o acesso igual à educação, independentemente da renda dos pais, do tamanho da cidade e da região onde mora cada criança. Para o Nordeste, essa visão é fundamental para a luta pela derrubada do muro que nos separa das regiões desenvolvidas.
Durante décadas, acreditamos que o papel da Sudene era ajudar o setor privado a implantar indústrias, criar empregos, aumentar a renda. A educação de base nunca foi um objetivo da Sudene e nem do desenvolvimentismo. Quarenta anos depois, o resultado é a tragédia retratada na enorme diferença dos resultados educacionais entre as escolas do Nordeste e aquelas do Sudeste e do Sul. A conseqüência é o confinamento histórico da região. Mesmo com todos os resultados positivos que venham de siderúrgicas, refinarias, estradas e portos, a Região continuará atrasada se não houver uma revolução na educação das crianças nordestinas, que lhes assegure escolas tão boas quanto as escolas das demais regiões do Brasil.
Se, 40 anos atrás, o Nordeste tivesse feito uma revolução educacional, com apenas uma parte dos recursos investidos em projetos industriais e agrícolas, certamente a distribuição de renda entre os Estados brasileiros seria bem diferente. Ainda mais diferente seria a distribuição da renda entre pessoas dentro da região. Daqui para frente, essa opção será ainda mais determinante.
O capital do futuro é o conhecimento. Não haverá desenvolvimento somente com capital financeiro para comprar máquinas e contratar os operários desempregados que estejam na porta das fábricas. O capital investido agora vai exigir mão-de-obra qualificada, não mais operários, e sim operadores, o que exige uma formação mais qualificada. Enquanto convivermos com o trágico quadro educacional do Nordeste, a região não mudará sua situação de atraso. Por isso, o esforço desenvolvimentista deve dar prioridade absoluta à revolução educacional. Os Estados e municípios nordestinos precisam definir como meta a verdadeira universalização da educação de base: não só na matrícula, mas sim na permanência, aprovação e aprendizagem até o final do ensino médio, em escolas iguais, com a máxima qualidade.
Nosso objetivo é que, no prazo possível, nossos jovens tenham o mesmo nível educacional dos jovens das regiões mais desenvolvidas do País. O educacionismo é o novo nome do desenvolvimento. E isso só será possível com a federalização da qualidade e dos recursos aplicados na educação.
Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e senador pelo P DT -DF.
Fonte; Jornal do Commercio(PE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário